Para compreender a atual conjuntura do crediário no Brasil, é fundamental revisitar sua história e o papel de figuras como Samuel Klein, o visionário fundador das Casas Bahia. Klein, um imigrante polonês com pouca instrução formal, mas com uma notável perspicácia comercial, foi um dos primeiros a acreditar no potencial de oferecer crédito às camadas mais populares da população brasileira.Sua filosofia, expressa na máxima "...a riqueza do pobre é o nome" , refletia uma profunda confiança em seus clientes, independentemente de sua origem social.
A história das Casas Bahia começou em São Caetano do Sul, na década de 1950, em meio a uma onda de migração de nordestinos para a região em busca de trabalho nas indústrias.Klein, inicialmente vendendo de porta em porta com uma carroça, percebeu que esses trabalhadores, com fluxo de caixa limitado, precisavam de crédito para adquirir bens essenciais para o lar. Em 1957, ele abriu sua primeira loja, batizada de Casas Bahia em homenagem a seus primeiros clientes.No seu próprio negócio, Klein continuou a prática que o havia consagrado como vendedor ambulante: a venda a prazo, materializada no famoso "Carnê das Casas Bahia".Esse sistema permitiu que a população de baixa renda tivesse acesso a bens de consumo duráveis que antes eram inacessíveis, impulsionando significativamente o consumo e contribuindo para o crescimento da nova classe média brasileira.O sucesso do modelo de Klein demonstrou o enorme potencial do crediário como ferramenta de inclusão econômica e fomento ao comércio.
Apesar de sua importância histórica, o crediário tradicional enfrentou desafios que levaram a uma percepção de declínio, especialmente com a ascensão de outras formas de crédito e pagamento. Um dos principais fatores foi a crescente bancarização da população brasileira. Com a expansão do acesso a serviços bancários tradicionais e o surgimento de contas digitais, uma parcela significativa da população passou a ter outras opções para gerenciar suas finanças e obter crédito. Em 2024, aproximadamente 80% da população brasileira estava incluída no sistema financeiro formal , o que ofereceu novas avenidas para transações financeiras que antes dependiam do crediário.
Outro fator crucial foi a ampla adoção do cartão de crédito.O cartão de crédito oferecia conveniência e poder de compra imediato, além de programas de fidelidade e a possibilidade de parcelar compras. Em 2025, o cartão de crédito era a principal modalidade de crédito utilizada nos últimos 12 meses, sendo mencionado por 75% dos consumidores que recorreram a essa forma de pagamento.Além disso, o cartão de crédito era a forma preferida para parcelar compras, citado por 71% dos entrevistados.Essa preferência pela praticidade e aceitação generalizada dos cartões de crédito contribuiu para diminuir a dependência do crediário oferecido diretamente pelos lojistas.A reputação do crediário tradicional também foi afetada por preocupações com juros abusivos e altos índices de inadimplência. A falta de transparência em algumas operações e as dificuldades enfrentadas por consumidores para honrar seus compromissos financeiros geraram um certo receio em relação a essa modalidade de crédito. Em fevereiro de 2025, o Brasil registrou um recorde de 7,2 milhões de empresas em situação de inadimplência , um indicativo dos desafios enfrentados no mercado de crédito como um todo.Finalmente, a falta de inovação tecnológica nos sistemas tradicionais de crediário, que ainda dependiam em grande parte de processos manuais, tornou-o menos eficiente e atraente em comparação com os métodos de pagamento digitais que surgiram com a evolução da tecnologia. A morosidade na aprovação de crédito, a dificuldade na gestão das parcelas e a ineficiência nos processos de cobrança contrastavam com a agilidade e a conveniência das transações eletrônicas.
Apesar dos desafios enfrentados, o crediário não desapareceu e agora está passando por um vigoroso renascimento impulsionado pela tecnologia. A demanda dos consumidores por flexibilidade nas formas de pagamento continua alta. Em 2025, aproximadamente 62,3 milhões de brasileiros possuíam compras parceladas , demonstrando uma preferência significativa por essa modalidade. Essa busca por opções que facilitem o acesso a bens e serviços, especialmente em um cenário econômico por vezes instável, mantém o crediário como uma ferramenta relevante.
A grande transformação reside na incorporação de tecnologias como Inteligência Artificial (IA), sistemas de autoatendimento e canais digitais. A IA permite uma análise de crédito mais precisa e rápida, personalizando as condições de financiamento de acordo com o perfil de cada cliente.Plataformas de autoatendimento e aplicativos móveis oferecem aos consumidores a conveniência de gerenciar suas parcelas, verificar prazos e até mesmo renegociar dívidas de forma autônoma, a qualquer hora e em qualquer lugar. A utilização de canais digitais para comunicação e cobrança torna o processo mais eficiente e menos intrusivo.Um dos benefícios mais significativos da digitalização do crediário é a potencial redução de custos e do estresse associados aos métodos tradicionais de cobrança.Sistemas automatizados de envio de lembretes de pagamento, chatbots para negociação e a possibilidade de realizar pagamentos online simplificam o processo tanto para o consumidor quanto para a empresa, diminuindo a necessidade de intervenção manual e os custos operacionais. Essa modernização torna o crediário uma opção mais sustentável e escalável para negócios de todos os portes.
Historicamente, a transformação digital do crediário beneficiou principalmente as grandes redes varejistas, que possuíam os recursos para investir em tecnologia e sistemas sofisticados de gestão de crédito. As PMEs, por outro lado, muitas vezes ficaram à margem dessa evolução, continuando a operar com métodos manuais e limitados. No entanto, o cenário atual oferece uma oportunidade inédita para essas empresas.
Graças ao avanço das fintechs e à disponibilidade de plataformas de crediário digital simples e acessíveis , as PMEs agora podem oferecer aos seus clientes condições de pagamento semelhantes às das grandes varejistas, como as Casas Bahia, mas com um investimento muito menor e uma gestão simplificada. Essas plataformas oferecem uma gama de funcionalidades que antes eram inacessíveis para pequenos negócios, como análise de crédito automatizada, processamento de pagamentos digitais, gestão de parcelamentos e ferramentas de comunicação com os clientes.
Em suma, o crediário não apenas sobreviveu à era digital, mas está passando por uma revitalização que o torna mais relevante e acessível do que nunca, especialmente para as PMEs brasileiras. A combinação da persistente demanda dos consumidores por parcelamentos com as inovações tecnológicas oferecidas pelas fintechs cria um cenário promissor para o crescimento e a modernização dessa modalidade de crédito. Ao abraçar as soluções de crediário digital, as PMEs podem superar as limitações dos métodos tradicionais, reduzir custos, otimizar a gestão de crédito e, o mais importante, oferecer uma melhor experiência de compra para seus clientes.
O crediário, portanto, não morreu. Ele está renascendo, impulsionado pela tecnologia, e pode se tornar um dos maiores diferenciais competitivos para as PMEs que souberem aproveitar essa transformação. Quer saber como aplicar essa estratégia inovadora no seu negócio e se posicionar como uma autoridade em crediário moderno? Acompanhe nossos próximos artigos para obter insights e orientações práticas sobre como implementar soluções de crédito inteligente e impulsionar o crescimento da sua empresa.
CTO da Olom
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