Quem nunca viu aquela famosa plaquinha pendurada na loja do bairro com os dizeres: "Fiado, só amanhã"? Mais que uma brincadeira, essa frase reflete uma dor real e comum no comércio brasileiro: a inadimplência. Vender sem receber na hora é arriscado, e muitas vezes, o pequeno comerciante fica de mãos atadas, sem ferramentas eficazes para gerenciar esse risco.
Mas o que se revela quando olhamos para o cenário do crédito no Brasil é que oferecer opções de parcelamento não é apenas uma prática consolidada, mas essencial para a competitividade e lucratividade das lojas. A história comprova: desde os tempos coloniais, passando pela popularização do crediário tradicional nas grandes lojas de departamento dos anos 1950, como Mappin e Mesbla, até o atual cenário digital, o brasileiro sempre valorizou a compra parcelada, considerando-a mais viável do que pagamentos à vista.
A inadimplência ainda assombra muitos comerciantes. Dados recentes indicam que, apesar de esforços para sua redução, 72 milhões de brasileiros ainda enfrentam problemas relacionados a dívidas não pagas, especialmente nos segmentos de menor renda. Isso traz custos adicionais e reduz a capacidade de crescimento das empresas.
Quando o cliente não paga, o comerciante enfrenta diversos problemas:
Fluxo de caixa comprometido;
Custos elevados com cobranças e administração financeira;
Dificuldade em investir e crescer.
Esses desafios acabam desencorajando comerciantes menores, que frequentemente evitam o crédito como forma de proteção contra a inadimplência, mas acabam perdendo uma ferramenta poderosa de aumento de vendas e fidelização.
Grandes varejistas demonstram o potencial do crediário próprio para gerar resultados extraordinários. Redes como Casas Bahia, Magazine Luiza, Lojas Renner e Carrefour já entenderam isso, utilizando seus próprios sistemas de crédito (cartões private label e crediários) não apenas para aumentar as vendas, mas também para fidelizar clientes e gerenciar melhor a inadimplência.
Por exemplo, famílias que usam cartões da loja chegam a gastar cerca de 20% a mais e têm tickets médios quase 10% superiores às que usam outros meios de pagamento. A Riachuelo, com sua financeira Midway, conseguiu que 73% do lucro total da empresa em 2024 viesse exclusivamente de sua operação financeira. Esses dados são claros: o crédito próprio não é só um facilitador de vendas, é um impulsionador de resultados financeiros concretos.
Para tornar o crediário eficaz, o segredo é adotar ferramentas e estratégias adequadas:
Análise de crédito rigorosa: soluções tecnológicas, como inteligência artificial, para prever riscos e segmentar clientes corretamente.
Educação financeira: orientar o consumidor para evitar o endividamento excessivo.
Automação dos processos: reduzir custos e aumentar eficiência no controle das operações.
O futuro aponta claramente para uma integração profunda entre varejo e serviços financeiros. Os varejistas estão cada vez mais se transformando em verdadeiros hubs financeiros, oferecendo crédito com segurança e conveniência diretamente aos seus consumidores.
"Fiado, só amanhã" pode ser uma frase engraçada, mas perder oportunidades por medo da inadimplência é um risco muito maior. O crediário, quando bem gerido, é um instrumento estratégico poderoso. Grandes redes varejistas já provam que, ao dominar esse método, conseguem não só evitar os problemas da inadimplência, mas transformar riscos em resultados concretos e lucrativos.
É hora do pequeno e médio varejista abraçar essa realidade, utilizando tecnologia e gestão estratégica para transformar o velho "fiado" em um crediário moderno e lucrativo.
CEO da Olom
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